segunda-feira, 25 de junho de 2012

Profissional sem amarras

Muitas pessoas abrem mão de um emprego formal, mas nem todas têm o perfil para isso.
O mundo do trabalho sofre mudanças constantes. Isso não é novidade, mas, como em relação a vários aspectos da vida contemporânea, parece cada vez mais rápido.

Escolher uma carreira e depois mudar de ideia ou mesmo se encaixar em um desvio de função não são raridade. Também há quem queira atuar de maneira mais independente, abrindo mão do emprego formal em nome de uma vida de autônomo, por razões financeiras ou mesmo de gosto.

Com o surgimento de novas profissões a cada ano, surgem também novas possibilidades de trabalho. O vinculo formal deixa de ser o desejo de todos, o que para pessoas de gerações mais velhas não parece fácil entender. Trabalhar para si? Com remuneração indefinida? Não cumprir jornadas fixas?

Mesmo a legislação brasileira, sabidamente tradicional, pode acabar se adaptando à realidade de uma economia global, sendo atualizada para se relacionar com uma sociedade que em questão de trabalho, em algumas situações, valoriza mais a empregabilidade do que o emprego. Já se discute a possibilidade de um funcionário que trabalhe algumas horas semanais ou por tarefa.

A vice-presidente de Capacitação Profissional da ABRH-RS Heloísa Amaral, diz que as mudanças são necessárias, mas a ideia de perder direitos é difícil de ser analisada em uma sociedade que vê o patrão como uma espécie de pai. "Nossas relações de trabalho ainda estão baseadas na CLT, que precisa ser modernizada em função da globalização. Mas por diversos fatores é difícil, mesmo da população que pensa 'as garantias que estão ali me servem hoje. Deus me livre se perco 30 dias de férias, 13º.  e coisas nessa linha'. Foram garantias importantes naquele momento (da criação da CLT), mas que hoje nos trazem perdas em relação a outros países", diz.

Para Heloísa, a falta de um pensamento de desenvolvimento social, de país, e uma visão apenas do bem estar próprio são fatores que engessam a mudança. Mas, além disso, existe uma questão de adaptação. Não são todos que preparados de fato para uma vida independente, longe do "pais".

"Houve um tempo em que ser funcionário do Banco do Brasil era status. Hoje existem outras opções igualmente glamorosas. O grande desafio individual é saber o que é melhor para si", diz. Ela vê a sociedade bem dividida, em trabalhadores que buscam a estabilidade de um concurso, mesmo os jovens, e outros que querem o oposto: desafios constantes. "É uma questão de perfil mesmo. Tem pessoas que valorizam a segurança de uma carreira pública. Outros querem abrir uma empresa, trabalham algum tempo em outra organização para aprender, já com a ideia de ter a sua em breve. Outros prestam serviços a empresas. Alguns querem carreira em multinacionais, pois gostam de desafios. São muitas opções, avalia.

Para Heloísa, a escolha deve ser feita com base em vontade mas também com a consciência das suas competências. "O profissional que busca garantia maior gosta de ter vida mais regrada, ter aquele salário, projetar gastos mensais, anuais, benefícios. Não gosta tanto de desafios, não gosta de trabalhar sobre pressão. Empreendedores, profissionais liberais, consultores não tem medo do desafio. Lidam com a instabilidade, trabalham com visão de longo prazo, tem mais flexibilidade", afirma.

Caracteristicas que se adaptam bem a geração Y , mas não como regra, pois há muitos jovens buscando concursos públicos. "A geração Y muda muito de empresa. Antes existia um tempo maior dentro delas, as pessoas faziam vínculo maior, até porque as oportunidades de crescimento eram mais no modelo primordial, crescia sendo gestor. 

As pessoas lideravam menos sua carreira e a delegavam para a organização acabava sendo seu sobrenome", diz. 

Uma característica forte da geração Y é a rapidez aliada ao pensamento de que é bom enquanto durar. "É aquela ideia de 'vou tomar sol em outra praia'. Tem também essa ânsia de crescimento mais rápido e hoje muitas vezes o crescimento se dá na troca de empresas, já faz um upgrade em cargo e salário na troca, como é comum em TI", comenta.

Ela acredita, no entato, que haverá um momento de acomodação maior a medida em que o Brasil tiver mais profissionais preparados. "Não terá tanta dança de cadeira, pois não serão tantas as vagas sobrando. O que deve acontecer em função da grande oferta de educação, como faculdades tecnológicas, EAD, cursos rápidos. Têm muitos cursos voltados à classe C hoje com este objetivo, analisa.

Heloísa também acredita que o desejo constante de mudanças deve diminuir com o passar dos anos. "A medida que as pessoas amadurecem, querem acompanhar um projeto como um todo, ver os impactos de suas ações. Quando se muda muito, nem sempre se fecha um ciclo. Ver onde errou, o que poderia mudar é legal. Acredito que as pessoas pensarão um pouco mais e ficarão mais dentro das organizações", projeta.



Fonte:  Conselho Regional de Administração - RS
             Revista Master - Março - Abril/2012

 

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