Para reter talentos, companhias precisam elevar responsabilidade da área de gestão de pessoas, diz consultoria
19 de abril de 2012 | 3h 07
FERNANDO SCHELLER - O Estado de S.Paulo
A atração de profissionais de perfil sênior de recursos humanos está cada vez
mais ligada ao aumento da importância da área de gestão de pessoas para a
estratégia do negócio. Uma pesquisa feita pela consultoria britânica Michael
Page mostra que o RH tem dificuldades de atrair e reter talentos porque, apesar
do recente debate sobre a dificuldade em encontrar bons profissionais, o setor
ainda não está no centro das estratégias da maioria das empresas.
Entrevistas feitas com gerentes e diretores de recursos humanos pela Michael
Page mostram que as companhias ainda têm problemas em "vender internamente" a
área de pessoas, já que a migração para outros setores geralmente se mostra mais
promissora no longo prazo. Para 57% dos profissionais ouvidos, é difícil manter
talentos no setor de RH. Outro entrave, apontado por 44% dos entrevistados, é o
reduzido números de profissionais seniores nos departamentos de gestão de
talentos.
A presença do RH no centro do planejamento da companhia é realidade somente
em algumas corporações de grande porte, segundo o diretor executivo da Michael
Page, Augusto Puliti. "Nas multinacionais, existe uma estrutura bem montada, com
diretor, gerente, coordenador e analista. Nas empresas menores, no entanto, não
existe o mesmo comprometimento em relação ao time de recursos humanos", explica
o especialista.
O profissional mais experiente de gestão de pessoas está interessado em
contribuir para os objetivos de longo prazo da empresa. "O objetivo do RH hoje é
participar do comitê executivo da empresa. A função vai muito além daquele
caráter de execução tradicional, de processamento de folha de pagamento",
explica.
Mudança. Entre as empresas que conseguiram atrair profissionais experientes
com o foco no RH estratégico está a varejista Fototica, rede de óticas que
pertence ao grupo franco-holandês Grand Vision. A empresa, que trocou
recentemente de presidente no País - o cargo foi assumido por Marcelo Ferreira,
ex-Adidas, no segundo semestre de 2011-, atraiu também um diretor de RH com 26
anos de experiência: Marco Antonio Gomes, que já passou por Hamburg Süd, Varig e
Playcenter, chegou na empresa há cinco meses e ganhou um assento no Conselho de
Administração.
A mudança, segundo Gomes, foi motivada pelo desafio estratégico apresentado
pela Fototica: criar um novo padrão de atendimento, que exige a reciclagem dos
profissionais que já atuam na empresa e também o treinamento dos novos que
chegarão com o projeto de expansão do número de lojas. "A concorrência no setor
de óticas é muito acirrada. A plataforma de crescimento da empresa está no
serviço, com uma venda mais técnica", explica. "Será preciso mudar uma cultura.
É o que a gente está tentando fazer."
No fim de 2010, quando foi comprada pelo fundo de private equity holandês Hal
Investments (dono da Grand Vision, formada em 2011), a Fototica anunciou um
plano ambicioso: elevar seu número de lojas de 118 para 500 até 2014. No
entanto, até o fim do ano passado, segundo informações da assessoria de
imprensa, a Fototica ainda contabilizava 119 unidades. A assessoria informa que
a Fototica pretende expandir sua atuação no País com a abertura de novas
unidades próprias e aquisições, mas não confirma se a empresa continuará a
perseguir a meta de 500 pontos de venda.
Desafio. Como ocorre em qualquer outra carreira, o profissional de RH também
busca desafios maiores. Há quatro meses, Ivan Pereira de Santana trocou a
varejista americana Walmart pela finlandesa Kemira, especializada em processos
para tratamento químico da água. Antes, Santana fazia parte de uma equipe; hoje,
responde pela estratégia de pessoas para a América do Sul. O grupo, que fatura 2
bilhões por ano, tem quatro fábricas e 430 funcionários no País.
"A empresa tem o desafio de encontrar profissionais qualificados para sua
expansão. A meta é crescer dois dígitos anualmente na região", diz Santana.
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