segunda-feira, 27 de junho de 2011

Demissão de gestor cresce 30% no 1º quadrimestre

MARCOS DE VASCONCELLOS

DE SÃO PAULO

A demissão de executivos cresce desde o fim do ano passado, segundo dados de quatro das maiores consultorias de recolocação do país: Gutemberg, Lens & Minarelli, Michael Page e Produtive.

O aumento chegou a 30% no primeiro quadrimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com estudo da Produtive com 330 executivos, em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.


"Depois da recuperação [da crise], as empresas estão sendo cobradas por resultados pelos acionistas", justifica Rafael Souto, diretor-executivo da consultoria.



No saldo de demitidos estão CEOs que trouxeram retorno aquém do esperado e o segundo escalão das companhias, especialmente diretores que foram trocados com a vinda de um novo líder.


Esses últimos fazem parte de um grupo de executivos desligados por "questões políticas" -que não estão ligadas a desempenho ou relacionamento, mas a processos como fusões- e que soma 50% das demissões em 2010, diz estudo da Lens & Minarelli com 125 gestores de RH.

"Não pude mostrar todo o meu potencial", diz Francisco Castro, 48, demitido após troca de chefia no banco em que trabalhava.


A recolocação foi difícil, diz ele, que conseguiu vaga em uma outra empresa e mudou-se de Brasília para o Rio.


47% sentem alívio em desligamento


Alívio é o principal sentimento dos executivos após a demissão. É o que dizem ter experimentado 47% dos 235 gestores entrevistados pela consultoria Lens & Minarelli no ano passado.


"A cobrança está mais forte porque o Brasil está produzindo mais. A expectativa é que se produza muito, até para 'tapar buraco' da produção de outros países", explica Mariá Giuliese, CEO da consultoria, justificando a sensação dos profissionais.


O mesmo levantamento, em 2005, mostrava que 33% dos executivos sentiam-se aliviados. À época, a maior parte dizia-se surpresa, chocada ou revoltada (43%).


Hilário Vizintin, 52, ex-gerente de infraestrutura em uma multinacional de eletrodomésticos, afirma ter sentido o aumento da cobrança. Em julho do ano passado, optou por sair da empresa para ter mais qualidade de vida.


"Eu trabalhava, no mínimo, 12 horas por dia, e estava sobrecarregado e com problemas de saúde", conta ele.


PRESSÃO CONSTANTE


Segundo Vizintin, a companhia, que considera um bom lugar para trabalhar, triplicou a produção nos últimos dez anos, sem que o número de funcionários acompanhasse o crescimento.


"O nível de pressão aumentou bastante, eu ficava 24 horas 'no ar'", conta ele.


Atualmente, Vizintin dá aulas em uma faculdade e diz ter mais qualidade de vida. Mas a maior parte dos recursos para seu sustento, que antes vinha do salário, agora é fruto dos rendimentos de uma previdência privada.


Planejar a carreira para o caso de ter que sair da empresa é algo mais comum atualmente do que há cinco anos. Em 2010, 54% dos demitidos disseram ter planos para o caso da demissão; em 2005, o número era de 38%.


Os profissionais estão cada vez mais conscientes de que são eles -e não as empresas em que trabalham- os responsáveis pela carreira, avalia Marcelo Cuellar, "headhunter" da Michael Page.


"O mercado aquecido exige essa consciência. É natural que a pessoa estude, faça MBA e tenha um plano B para deixar a companhia", sinaliza o consultor.

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